domingo, 6 de fevereiro de 2011

Dama da Noite

Saí lá fora e senti seu perfume. Até q enfim consegui aprisionar em minha casa o perfume da "dama da Noite". Ele povoou minha infância. Passava à noite pela rua João Pessoa, pouco mais à frente de dobrar a praça da Bandeira e ele vinha com toda intensidade . Como era bom : o cheiro inebriava: não conseguia ver a árvore que oferecia aquela dádiva a nós que passávamos; o muro era alto.Mas envolvia boa parte do trajeto.. Alguém falava: É a Dama da Noite!. A mim, ainda pequena, aquele nome soava como algo misterioso: "Dama da Noite!" Tinha uma conotação pertencente a um mundo meio que escuso e proibido. Era a dama que frequentava as noites e de comportamento não muito recomendável. Isso aumentava ainda mais o fascínio pelo perfume e pela flor. Cresci,farejando sempre dentre os perfumes que sentia, aquele encantado odor da "dama da Noite". Por vezes o identificava e vinham me assaltar, além da delícia olfativa, tudo que ela provocava: meus passeios na avenida ou ida ao cinema, visita a alguém, meus pais e irmãos que me acompanhavam, minha tia... E o trajeto invariável da volta, quando sentíamos o perfume da flor. Há pouco tempo, passando à noite em frente a uma casa, lá estava ela: a "Dama da Noite". Não resisti; enfiei a mão por sobre o muro e arranquei um galho pequeno. Plantei-o, descrente de q um dia eu pudesse ter ao meu alcance aquela planta divina. E não é que ela vingou? E agora à noite, indo ao quintal, chegou-me seu perfume, assim, de repente. Resgatei um pouco os tempos vividos naquele trajeto perfumado como são talvez os caminhos da infância: apesar de algumas tristezas, tudo era esquecido e a vida era doce como aquele perfume que tanto persegui e agora o tenho aqui mesmo, no meu quintal.

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