quarta-feira, 27 de julho de 2011

Prezado Xico Sá,
Li o seu pedido de casamento a Luísa Brunet e achei-o lindo. Muito bem escrito, com uns toques meio a Vinícius, meio a Rubem Braga. Tenho certeza de que a Luísa vai ficar lisonjeada e se sentir uma Deusa com tanta devoção e humildade dirigidas a ela. Você ficou mesmo de joelhos, prometendo coisas simples, mas poéticas para essa criatura tão excepcional.
Não sei se ela aceitará o pedido; isso vai ficar a critério dela. Talvez num primeiro momento ela fique impressionada com tanta submissão a sua pessoa e acabe marcando um encontro com você para tomar uma champagne ou um vinho antigo. Porque ela é como vinho antigo, os anos passam e ela fica cada vez mais bonita e apetitosa, conforme a mensagem subliminar que deduzi de seu texto. Agora, daí pra frente, tenho minhas dúvidas se ela vai apreciar ir a uma sessão vespertina de cinema e depois saírem de mãos dadas tendo "o sol por testemunha". Receio também que a vida atribulada de musa eterna da moda não lhe tenha permitido acompanhar a "longevidade criativa" de Woody Allen, nem tenha se permitido gargalhar das cenas memoráveis de seus filmes, nem se encantar com os velhos jazz, parte infalível de suas trilhas sonoras.
Não quero jogar água fria nas suas intenções tão meigas, mas desconfio também que ela não seja muito chegada nessa cozinha caipira com a qual você vai brindá-la. Picadinho de carne com ovo "poché" me soa meio estranho quando se associa à figura esguia e altiva da La Brunet. Gisele Bundchen acho que arriscaria.
"Massagens no ego" também não a seduziriam, desculpe a franqueza, pois, na minha humilde opinião, ela nunca me pareceu ter essa carência. Já fez até novela na Globo, mesmo não sendo do ramo... Sugeriria, se me permite, umas sessões no fonoaudiólogo, pois percebo nela uma leve dificuldade na articulação das palavras.
Portanto, meu caro Xico, ou você muda o seu discurso para cortejar a Luísa, ou você vai perdê-la para outro menos poético e mais objetivo. Digamos para aquele que vai mais ao ponto, sem divagações líricas.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Olhos Azuis

Faz muito tempo e ainda me lembro daaqueles olhos azuis. Um azul claro, contrastando com a pele levemente morena. Era como um lago azul, profundo, que parecia atrair para um mergulho nele. Fiquei tocada por aquele olhar, ainda mais que o rapaz tinha um ar sereno, combinando com a mansidão daquele lago estampado no rosto.
Ele tomava conta de um bazar para o pai, no caminho de casa, portanto passava por ali várias vezes ao dia e procurava por aqueles olhos azuis e ansiava ver neles algum sinal que me induzisse a pensar que também ele se impressionara comigo. Mas era ilusão de garota ingênua: aquele olhar nada dizia de importante para mim. Olhava pelo hábito de olhar algo comum que cruza o nosso olhar. E como nenhuma palavra sairia de minha boca para chamar sua atenção, ficava nas minha idas e vindas somente no exercício de contemplar aquele azul puríssimo. Restou para mim o exercício de contemplar o Belo. Como um quadro que se olha, analisa, aprecia, mas que não se pode tocar, nem levar para casa. Era um quadro pendurado na parede, acessível aos olhos, mas intocável.