Ando pelas ruas da cidade. Gosto de sentir o vento, o sol, a brisa, ver a cor do céu, a chuva caindo. Caminhar traz uma sensação da vida correndo nas veias, da vida pulsando nas ruas. Caminhar é seguir em frente, apesar de tudo.
Ultimamente ando olhando para baixo durante meu trajeto e todas essas sensações boas vão aos poucos se desfazendo, dando lugar a um desencanto, uma sensação de impotência, revolta até. A paisagem passa a ser ameaçadora, ao invés de poética. Os pássaros continuam cantando, a brisa ainda vem resfriar meu rosto, mas o que vejo aos meus pés e até onde minha vista alcança é desolador. É o lixo fazendo parte da paisagem, mais precisamente o plástico, em todas as suas modalidades. Copos grandes, pequenos, médios, de sorvete, de iogurte, embalagens das mais variadas espécies, garrafas pets de todo o tamanho e forma, sacolas de supermercados, lojas, açougues, como se ali já se fizesse a publicidade do comércio da cidade. É a passagem insana dos homens pelas ruas da cidade, expondo a sua total inconsequência, a sua leviandade com o espaço público que, por ser público, pensa que é só dele e não de todos. Que inteligência é essa que passa por uma família, por uma escola, por leituras, por informações na mídia, e que não percebe que um simples gesto seu pode acarretar graves consequências, uma delas a dengue?
Deve-se esse comportamento a séculos de inoperância do poder público que nunca investiu como devia em Educação, às falhas na formação da mentalidade do bem coletivo, à rapinagem de políticos que, desde os tempos coloniais usurparam do povo o direito à dignidade, à educação, à cultura?
São questões que vão me passando na mente, na tentativa de tirar do povo o peso desse comportamento primitivo, justificando pela História do país ações já viciadas e que , pelo que se depreende do estilo de se governar, vão demorar muito a se tornarem civilizadas.
E eu continuo minhas caminhadas, observando a paisagem que herdamos.
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