sexta-feira, 13 de abril de 2012
Flores caídas
Devia ter uns treze ou quatorze anos. Andava pela Nove de Julho, não me lembro para onde. Acho que para a Avenida, tinha que fazer alguma coisa para meu pai.cabeça baixa, e introspectiva, como sempre. Era ainda adolescente, mas já sentia a dor da vida.Nada de grandes sonhos, grandes perspectivas. Prematuramente, já pressentia uma falta de sentido para a vida. Em frente a uma casa, a calçada estava forrada de flores amarelas. Acho que caídas de um ipê que beirava o muro. Estavam pisadas, mas formavam um belo tapete, cobrindo a calçada. Tive que andar também sobre elas para seguir meu caminho. Mas aquelas flores amarelo-ouro ficaram retidas em minha mente e me despertaram certa emoção. Achei que devia registrar aquela cena em um texto e passei a imaginar em que situação narrativa aquilo podia funcionar como cenário. Logo imaginei um casal de namorados que desfaziam seu relacionamento ali, naquele tapete dourado. Comecei a escrever a história deles, o encontro, a descoberta do amor e o desentendimento. Mas não consegui passar daí. Não me vinham idéias, motivos, os diálogos me pareciam chochos e sem graça. Animei-me a realizar uma grande história, tomada que estava pelo encntamento das flores caídas. Mas a empreitada não teve êxito. Ficaram ali as frases em um caderno velho, uma história começada, com pretensões de atingir a plenitude, mas a inspiração murchou, como murcharam a flores derrubadas pelo vento daquele ipê amarelo.
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