Faz muito tempo e ainda me lembro daaqueles olhos azuis. Um azul claro, contrastando com a pele levemente morena. Era como um lago azul, profundo, que parecia atrair para um mergulho nele. Fiquei tocada por aquele olhar, ainda mais que o rapaz tinha um ar sereno, combinando com a mansidão daquele lago estampado no rosto.
Ele tomava conta de um bazar para o pai, no caminho de casa, portanto passava por ali várias vezes ao dia e procurava por aqueles olhos azuis e ansiava ver neles algum sinal que me induzisse a pensar que também ele se impressionara comigo. Mas era ilusão de garota ingênua: aquele olhar nada dizia de importante para mim. Olhava pelo hábito de olhar algo comum que cruza o nosso olhar. E como nenhuma palavra sairia de minha boca para chamar sua atenção, ficava nas minha idas e vindas somente no exercício de contemplar aquele azul puríssimo. Restou para mim o exercício de contemplar o Belo. Como um quadro que se olha, analisa, aprecia, mas que não se pode tocar, nem levar para casa. Era um quadro pendurado na parede, acessível aos olhos, mas intocável.
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