Preparava-se o domingo no sábado. O bolo, o pudim, as roupas engomadas para a missa das oito, o frango condenado ciscando no terreiro até a sua derradeira hora da qual corríamos para não vê-lo esperneando depois que a vizinha torcia-lhe o pescoço. Momento desagradável nesses preparativos para o dia festivo.
A vida então parecia um ritual que se cumpria religiosamente, sem acontecimentos inesperados para interromper a disciplina instituída. Nada para romper a cadência normal dos dias. Mas essas vésperas dos domingos eram vividas com a felicidade nos corações. Eram a promessa da comida gostosa e farta, da roupa que alimentava a vaidade, da matinê e do sorvete de coco queimado, sabor que nunca mais foi o mesmo, por mais que sorveterias se espalhassem pela cidade. Procura do sabor perdido.
Meu pai fazendo a barba com a calma das pessoas de coração leve, as batidinhas do aparelho de barbear na pia... Minha mãe abrindo o forno para vigiar os doces, e o quintal imenso, pés descalços na terra, e a laranjeira abraçando-nos com a ternura dos seus galhos e a doçura de suas frutas.